O AZULEJO EM PORTUGAL E NO MUNDO LUSóFONO
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A "Madonna del fascio" em Predappio

de Anabela Ferreira[1]

 
A “Madonna del fascio”, ou seja, A Nossa Senhora do Facho, deve ser enquadrada, antes de mais, no âmbito da produção do azulejo português do qual é necessário marcar a especificidade pois, de facto, em nenhum outro país da Europa encontramos um exemplo destas dimensões. Trata-se de um painel de azulejos de cm 310x260 que se encontra no interior do Infantário Santa Rosa em Predappio, cidade  que se encontra a cerca de 23 km de Forlì e a 70km de Bolonha.

Representa a Nossa Senhora do Facho e é constituído por trezentos e quarenta e quatro azulejos que apresentam as dimensões canónicas típicas da produção da cerâmica portuguesa do modelo menor, cm 14x14, e por trinta e quatro azulejos que têm uma medida diferente, cm 3,5x14, enquanto que os restantes vinte foram modelados de várias maneiras para se poderem adaptar à moldura em cerâmica.

A obra, devido ao seu caráter peculiar, assume um maior significado não só com referência ao âmbito local mas sobretudo como referência específica também ao mais vasto contexto italiano, e a um horizonte que, devido a alguns  aspectos, pode ser definido até mesmo europeu. Foi de facto realizado em 1927 em Portugal, na Fábrica de Cerâmica Constância por Leopoldo Battistini (Jesi 1865 - Lisboa 1936), e retoma a grande tradição da arte de azulejar que se desenvolveu no território lusitano a partir do século XVI.

Este painel foi apresentado ao público pela primeira vez na Exposição Internacional de Milão em 1927 e, nesta ocasião, foi fotografado pelo fotógrafo Schiavoni de Jesi, cidade da região italiana denominada Marche. Através da relativa impressão fotográfica, hoje guardada na Pinacoteca Municipal desta cidade, esta obra, assim como muitas outras, foi colocada no sugestivo ambiente de uma sala completamente dedicada à arte do azulejo português, contando com vários exemplos de relevo.

Os azulejos de Predappio, de uma maneira mais específica, enquadram-se no importante capítulo da cerâmica historicista e nacionalista, isto é, o gosto pela revivescência dos vários estilos, mas que acaba por privilegiar os anos Quinhentistas, e que teve início com a época do rei D. Fernando (1345-1383). A composição apresenta-se rodeada por uma falsa moldura arquitetónica, com no meio colocado o trono no qual se encontra sentada a Nossa Senhora com o Menino; nos lados estão colocados dois grupos constituídos cada um por quatro anjos músicos que tocam flauta e violino e, nas costas destes, encontra-se um enorme repertório de símbolos, tais como estandartes, bandeiras e emblemas, apoiados por hastes e onde aparecem fachos, águias e coroas. Os dois anjos colocados ao meio estão vestidos com tecidos brancos, verdes e vermelhos para evocar as cores da casa de Sabóia, e têm nos braços o feixe de lictor, que Jesus abençoa. A paleta, como bem ficou mostrado através do restauro, apresenta uma rica gama cromática que passa desde o ocre até ao azul e ao verde, com uma extraordinária delicadeza de passagens, assim como uma especial maciez dada na realização das passagens uniformes da cores.

Ao conceber a composição, Leopoldo Battistini, exponente de tendência histórica e nacionalista no seguimento do revival do século XV, parece ter-se inspirado no painel de Nossa Senhora da Vida, atribuído a Marçal de Matos, realizado à volta de 1580, e que agora se encontra no Museu Nacional do Azulejo em Lisboa. De facto, Leopoldo Battistini, que pertence à corrente dos pintores figurativos de formação académica e de sensibilidade romântica ligados às correntes tradicionalistas e conservadoras, propõe aqui os elementos decorativos mais frequentes do repertório português.

Artista da região de Jesi, Leopoldo Battistini viveu em Portugal durante quarenta e sete anos, desde Junho de 1889 até 4 de Janeiro de 1936, quando faleceu com setenta e um anos, e com o reconhecimento de ter sido um importante mestre. O percurso artístico de Battistini teve uma mudança radical quando, em Junho de 1889, após ter ganho uma bolsa de estudo, mudou-se para Portugal, mais exatamente para Coimbra, para ensinar desenho na Escola Industrial Avelar Brotero. Num ambiente rico de solicitações culturais e, ao mesmo tempo, cativante, o artista teve ocasião de conhecer e frequentar pintores e escritores de grande fama, tais como António Nobre, Manuel da Silva Gayo e o poeta simbolista Eugénio de Castro. Em 1903 passou para a escola Marquês de Pombal em Lisboa, onde ensinou durante vinte e sete anos, revelando-se, durante este período, um ótimo restaurador.




[1] Anabela Cristina Costa da Silva Ferreira, nasceu em Lisboa, e desde 1990 é residente em Forlì, na região italiana da Emilia Romagna, onde ensina e traduz a língua portuguesa na Universidade de Bolonha. Publicou recentemente com a editora Zanichelli um dicionário Português-Italiano/Italiano-Português, e colabora com algumas revistas italianas para a divulgação da língua e cultura portuguesas.

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